"A memória do passado é uma manifestação do futuro."


Abade Suger (sécs. XI e XII)

sábado, 5 de setembro de 2009

Olivenza - Extremadura - Espanha



Chegamos a Olivenza ou Olivença, cidade que em tempos foi portuguesa mas que hoje faz parte da Extremadura espanhola.À hora da nossa chegada, ao início da tarde, a cidade estava praticamente deserta. Na Oficina de Turismo o funcionário que nos atendeu falava um português puro. O nosso ilustre Oliventino é estudante na Universidade Aberta e está a fazer o Mestrado em Estudos Portugueses. Mas de uma maneira geral, os "oliventinos" há muito que se consideram espanhóis e não querem ser portugueses. Desde as Guerras da Restauração, após a destruição da Ponte da Ajuda - que hoje faz a fronteira - a cidade ficou entregue a si própria (Foto). O nosso Magnânimo Rei D. João V bem podia ter aproveitado as riquezas do Brasil para reconstruir a ponte e criar uma raça-forte. Mas no seu tempo, como agora também, os nossos governantes despendem dinheiro em obras inúteis, como o Convento de Mafra, que é uma espécie de Centro Cultural de Belém do Século XX.
O Património Arquitectónico de Olivenza é digno de interesse. Na cidadela abundam elementos de Arte Manuelina e casas senhorias de linhas clássicas muito depuradas.Sem esquecer a Igreja de Santa Maria do castelo e a Igreja da Magdalena. Fomos encontrar o Portal Manuelino do edifício do Ayuntamento que é o ex-libris da cidade, mas que está entaipado pelas obras de requalificação do edifício (foto).
Já agora sobre a a história da cidade há um livro que achei interessante pelo seu rigor documental escrito por TORRES GALLEGO, Gregório - História de Olivenza. Edição do autor, 3ªEdição, 2007. Fiquei com o único exemplar que havia, pois a tiragem foi muito reduzida. Espero que a obra reapareça no mercado.
Esperamos voltar em breve a Olivenza, talvez na próxima Primavera.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sevilha


Sevilha, um oásis de verdura para quem chega de uma travessia batida por um calor tórrido. Magnífica a entrada da cidade, através de uma extensa avenida recheada de vegetação densa com palmeiras altivas. As águas do Guadalquivir suavizam o calor sufocante. A Catedral é imponente e domina a cidade. Nela se conserva o túmulo de Colombo. Mas aqui como em Córdova e Granada é a arte islâmica assim como a arte mudéjar que prende as atenções do visitante. Os ex-libris mais marcantes são a Giralda e a Torre do Oiro (ver foto). Sabe bem, estar aqui.

Granada

Granada: a encantadora cidade Lorca. O último Reino Mouro a cair nas garras da barbárie cristã. No altos da Serra Nevada conservam-se flocos de neve. O Allambra domina a cidade. Junto ao Albaicin, bairro típico de Granada, sopra uma aragem morna. Bocadillos com sangria, porque não? Sorrimos, estamos em Granada!

Córdova


A caminho de Córdova, "lejana e sola. Ay que la muerte me espera, antes de llegar a Córdova" - escreveu Garcia Lorca. A temperatura ronda os 44º, mas dentro do nosso Peugeot o ambiente é melhor com o ar condicionado.
Córdova, finalmente. Belíssima! Rever a Mesquita, deambular pelas ruas estreitas frescas e brancas é um prodígio gostoso. Como estamos gratos à Civilização Islâmica, onde a tolerância era a regra, não a excepção. Aqui Maimónides exerceu medicina que na época era a mais avançada da Europa. Aliás,na época islâmica, a cidade tinha iluminação pública e sobretudo, livros. A barbárie cristã acabou com tudo isso, e foi preciso esperar pelos tempos modernos para reabilitar Córdova que é das mais belas de Espanha e do Mundo.

Augusta Emerita


Mérida: eis-nos na capital da antiga Lusitânia. Nunca é demais revisitar o Teatro Romano, cujo imponente cenário nos deixa siderados. Actualmente decorrem escavações junto ao Templo de Diana. Decorrem várias sondagens arqueológicas pela cidade que têm posto a descoberto vestígios do traçado das vias e calçadas do Decumanus Maximus. Calor intenso. Mesmo à noite. Como não estão agendados espectáculos no Anfiteatro Romano (para nosso descontentamento) atravessamos a Ponte Romana sobre o Guadiana. Magnífico!

Trujillo


De Marvão à Extremadura espanhola é um pulo. Ao contrário do que se vê em Portugal, a paisagem está cultivada de oliveiras, chaparros e irrigada. Parámos em Cáceres, a cem Km da fronteira portuguesa, para apreciar o seu admirável centro-histórico que foi classificado pela Unesco. Mas nada que se compare à beleza de Trujillo, cidade que fica a 50 Km a leste de Cáceres. Estava deserta quando lá chegámos. Aqui nasceu Pizarro, o conquistador (ou o bárbaro) do Perú. Tal como vimos em Cáceres, abundam imensas construções platerescas, como o Palácio de Pizarro. A Plaza Mayor é soberba! Aqui recua-se no tempo. Ou melhor, fica-se com a ideia que a Era Quinhentista está demasiado perto. Porém, em vez do cheiro a carne chamuscada provocada pelas chamas da Inquisição infligidas aos hereges, na cidade inebriamos-nos com o cheiro dos enchidos e fumados com que agora nos regalamos ao sabor de um tinto Rioja.

Marvão


Marvão: que terra tão encantadora. Sugiro aos astrónomos e a todos os aficionados pela Astronomia que venham até aqui à noite observar os astros. Soberbo! Para contemplar, para conhecer, para sentir, para amar e para estudar.
Já agora fiquem na Estalagem Dom Manuel. É de 4 estrelas e está bem posicionada para a paisagem que é deslumbrante.

Tomar


Tomar está na mesma e ainda bem. O casco histórico tem uma arquitectura urbana ímpar dominada pelo Convento de Cristo.É com indizível prazer que gosto de reapreciar as pinturas de Gregório Lopes na Igreja Matriz consagrada a S. João.
Finalmente a abóbada do convento de Cristo, que integra a Charola, foi restaurada, estando, agora, as pinturas perfeitamente legíveis à luz do programa iconológico da Arte Manuelina. É pena os visitantes não poderem circular pelo deambulatório anelar e que é característico das construções medievais inspiradas na esteira do Santo Sepulcro de Jerusalém.
O Claustro dos Filipes, também conhecido por Claustro de D. João III, é o meu predilecto. Foi o Mestre Diogo Torralva quem começou a construção mas foi sob o risco de Filippo Terzi que a obra foi concluída. Os motivos paladianos, que dão cunho à sobriedade deste conjunto arquitectónico, fazem deste Claustro a obra mais marcante da Arte Renascentista Portuguesa. Por outro lado é a nossa Herança Filipina que vem ao de cima e que nos dias de hoje nos traz a nostalgia do sentimento iberista.

Conímbriga



Como neste verão a "Gripe A" limitou-nos o prazer de viajar pelo estrangeiro, dado o risco de contágio lactente, sobretudo nos aeroportos, a nossa viagem à Turquia ficou protelada, o que nos deixou bastante entristecidos. Após um ano de estudo consagrado ao País dos Hititas, dos Romanos, dos Seljúcidas e Otomanos - povos e culturas que moldaram a Turquia ao nível da Paisagem, da Cultura e da História - quedámos-nos "por cá", ou seja, na Península Ibérica com os livros de Orhan Pamuk abordo - escritor turco que tanto apreciamos.
A caminho da cidade de Tomar paramos em Condeixa para (re)visitar o Museu Conímbriga. Há falta de indicações na estrada (costume bem português) mas lá chegamos. Há mais de vinte anos que não vínhamos a Conímbriga e desde logo desapontou-nos o Museu; as peças mal expostas, a falta ou deficiência de legendagem que impede de apreciar as colecções de forma significativa. Desapontou-nos, também, as estruturas de cobertura dos mosaicos e, mais uma vez, a falta de uma sinalética adequada e perceptível para o visitante. Ainda não há muito estivéramos em Pompeia onde a este nível o visitante não tem que se preocupar pois as indicações estão bem visíveis e o visitante só tem que ter pernas para andar ao longo da Via dell` Abbondanza e descobrir.
Aqui as novas áreas escavadas deixaram a céu aberto umas trincheiras amontoadas de pedras e vegetação o que aumenta mais a sensação de abandono e desolação.
Falta dinamizar todo este espaço museológico e, sobretudo, reformular o Museu Monográfico. Pelo País há já Museus Monográficos com programas científicos bem elaborados e que dignificam a História Local, a preservação dos monumentos e sítios.
Oxalá cesse a "paz dormente" daqueles que gerem os nossos bens patrimoniais para bem do nosso Património Cultural.

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